quinta-feira, dezembro 18, 2008

BALLETEATRO - RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS

Concurso nacional e internacional até dia 22 de Dezembro

Estão abertas as inscrições para um concurso nacional e internacional de residências a realizar ao longo do ano de 2009, em períodos definidos (ver regulamento).
O prazo expira a 22 de Dezembro de 2008.
O objectivo deste concurso é desafiar artistas de diversas áreas a apresentarem projectos de explorações dentro das artes performativas em condições de imersão criativa.
Mais informações devem ser solicitados através do e-mail producao@balleteatro.pt

balleteatro
residência 2009
concurso nacional e internacional

As residências por concurso têm como objectivo criar uma oportunidade a criadores de diversas áreas de desenvolver projectos específicos dentro das artes performativas em condições de imersão criativa.
A residência decorrerá nos seguintes períodos 6 a 13 de Fevereiro ou 8 a 15 de Maio 2009.
O prazo das candidaturas expira em 22 de Dezembro de 2008.
Resultados divulgados a 15 de Janeiro de 2009.
O concurso é nacional e internacional.


1. Regulamento

Estão abertas as inscrições para um concurso de residências a realizar nos períodos de 6 a 13 de Fevereiro ou 8 a 15 de Maio 2009. Prazo expira em 22 de Dezembro de 2008 e os resultados serão divulgados a 15 de Janeiro de 2009.
O objectivo deste concurso é desafiar artistas de diversas áreas (dança, teatro, performance, música e instalações/artes plásticas) a apresentarem projectos de explorações dentro das artes performativas. É portanto objectivo da residência criar uma oportunidade a criadores de desenvolverem projectos específicos dentro das artes performativas em condições de imersão criativa.
As candidaturas devem referir-se a um projecto concreto de trabalho e devem prever pelo menos uma acção que se possa abrir à cidade. Esta acção não deve ser confundida com uma apresentação final resultante do laboratório em si.
Os projectos a concurso devem prever trabalho com pessoas locais a seleccionar mediante critérios definidos pelo(s) autor(es) do projecto.
Os projectos devem ser apresentados por escrito de forma sucinta e sempre que os criadores considerem importante podem ser acompanhados de outros suportes visuais. Deve ser ainda enviada uma breve bio do responsável ou responsáveis do projecto. Este material deve ser enviado para balleteatro praça 9 de Abril, 76, 4200 – 422 porto.
A duração das residências pode ser variável em função da especificidade de projectos seleccionados.
O balleteatro coloca ao dispor uma casa com alojamento para um máximo de cinco pessoas. Em caso excepcional pode ser ainda considerado um espaço alternativo para apoio ao alojamento. Dispõe ainda de um auditório, uma sala de ensaios e serviços anexos. O balleteatro dará o apoio técnico e é responsável pela produção e divulgação necessária do projecto no período de residência.
Os criadores responsabilizam-se por concretizar os seus objectivos e devem facultar ao balleteatro qualquer registo e documentação do processo. A apresentação no final da residência realizar-se-à no auditório do balleteatro e com possibilidade de haver mais que uma réplica. A apresentação pode não ter necessariamente um carácter de espectáculo, mas uma partilha aberta e informal das propostas em exploração.
Caso o projecto tenha continuidade num futuro, o balleteatro deverá ser referido como co-produtor.


2. Critérios de Selecção das propostas para residência

Propostas que apresentem um projecto de experimentação-investigação para determinados aspectos das artes performativos.
Propostas que apresentem um carácter alternativo e criativo dentro das artes performativas.
Propostas em que se perceba uma boa relação entre idealização e conceptualização e execução e praticabilidade técnica e artística.
Propostas que apresentem uma acção pertinente e estimulante com a comunidade local.
Propostas que envolvam de forma criativa os participantes em geral.


balleteatro
praça 9 de Abril nº 76
4200-422 Porto
tel. 225508918
www.balleteatro.pt

terça-feira, dezembro 09, 2008

Onde está a avó? - Teatro da Garagem (10 a 14 de Janeiro de 2008)

PARA A INFÂNCIA



ONDE ESTÁ A AVÓ?


DE INÊS VICENTE E RUI DAMAS



© Pedro Magalhães



sobre

Cha- cheira a bú… Cha- cheira a bú… Cha- cheira a bú… Cha- cheira a bolinhos!…

…não conseguindo resistir o actor é tentado a transpor a porta de onde vem o aroma. A partir desse momento entra num mundo de magia e fantasia que o vai fazer viver uma série de peripécias que vão desde o fundo do mar até à lua…

Mas…mas, que porta será esta? Mas… onde está a avó??? E…e onde estão os bolinhos???


FichaArtísticaeTécnica
Criação e Encenação Inês Vicente e Rui Damas Desenhos Pedro Teixeira Actor (Neto) Nuno Loureiro Figuração especial (Avó) Sandra Barros Colaboração especial (Som) Diogo Franco Fotografia Pedro Magalhães


10 a 12 de Dezembro 10h30 11h30 14h00 15h30
13 e 14 de Dezembro 16h30

Teatro Taborda
Costa do Castelo, 75
1100-178 Lisboa

Contactos
Teatro Taborda 21 885 41 90 96 801 52 51 geral@teatrodagaragem.com
Raquel Paz (Produção)
raquelpaz@teatrodagaragem.com


Por favor, faça a sua reserva através dos contactos acima facultados.



TEATRODAGARAGEM


Produção



Tel.: 21 885 41 90 Fax: 21 868 85 50 Telm.: 96 801 52 51


E-mail: raquelpaz@teatrodagaragem.com geral@teatrodagaragem.com




quarta-feira, novembro 19, 2008

Teatro do Absurdo

O Teatro do Absurdo nasceu do Surrealismo, sob forte influência do drama existencial. O Surrealismo, que explora os sentimentos humanos, tecendo críticas à sociedade e difundindo uma ideia subjectiva a respeito do obscuro e daquilo que não se vê e não se sente, foi fundamental para o nascimento desse género que buscava, na segunda metade do século XX, representar no palco a crise social que a humanidade vivia, apontando os paradigmas e os valores morais da sociedade como factores principais da crise. A principal fonte de inspiração dos dramas absurdos era a burguesia ocidental, que, segundo os teóricos do Absurdo, se distanciava cada vez mais do mundo real, por causa das suas fantasias e cepticismo em relação às consequências desastrosas que causava ao resto da sociedade.

Como o próprio nome diz, o Teatro do Absurdo propõe revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo que é considerado normal pela sociedade hipócrita. Essa vertente desvela o real como se fosse irreal, com forte ironia, intensificando bem as neuroses e loucuras de personagens que, genericamente, divulgam o homem como um psicótico, um sofredor, um ser que chega às últimas consequencias, culminando sempre na revolução, no atrito, na crise e na desgraça total. Extremamente existencialista, o Absurdo critica a falta de criatividade do homem, que condiciona toda a sua vida àquilo que julga ser o mais fácil e menos perigoso, negando-se a ousar, utilizando-se de desculpas para justificar uma vida medíocre.

Eugene Ionesco
O Teatro do Absurdo foca principalmente o comportamento humano, deflagrando a relação das pessoas e seus actos concomitantes. O objectivo maior desse género é promover a reflexão no público, de forma que a maioria dos guiões absurdos procuram expor o paradoxo, a incoerência, a ignorância dos seus personagens num contexto bastante expressivo, trágico, aprofundado pela discussão psicológica de cada personagem apresentado, com uma nova linguagem. Para Ionesco, Membro da Academia Francesa, autor de um dos primeiros espectáculos absurdos, como A Cantora Careca (1950), “renovar a linguagem, é renovar a concepção, a visão do mundo”. Essa linguagem é traduzida não só nas palavras de cada um dos personagens, e sim em todo o contexto inovador, pois cada elemento no Teatro do Absurdo influencia a mensagem, inclusive os objectos cénicos, a iluminação densa e utópica, além dos figurinos. Todos esses elementos materiais do espectáculo contribuem para o enriquecimento da mensagem que deve ser clara para não haver dúvidas por parte do público. A ironia constitui-se numa figura de linguagem extremamente difícil de ser praticada no palco, pois, exagerada ou mal formulada, pode ganhar um sentido contrário àquele intencionado pelo director. Um outro factor importante é que, no Teatro do Absurdo, muitas vezes o cenário, o figurino e as nuances nas interpretações tornam-se ainda mais importantes do que o próprio texto. O texto em si promove uma nova leitura, cuja concepção tornará possível a construcção cénica dentro de um viés preferido pelo director.

Samuel Beckett
Um dos autores de vanguarda do Teatro do Absurdo é Samuel Beckett autor do clássico À espera de Godot, que conta a história de dois personagens que esperam ansiosos por ajuda numa terra onde nada acontece de inovador, onde tudo se repete sem cessar, obrigando os angustiados personagens a tentar iludir a tristeza e frustração. Esse texto traduz perfeitamente a essência do Absurdo, sendo Beckett uma pessoa que, desde jovem manifestava o seu dom à rebeldia, sendo um homem contrário a religiosidade, mesmo sendo de família protestante, além de ser um homem adepto à revolução dos costumes. O Absurdo, assim como o Dadaísmo, promoveu a revolução na linguagem e na ideologia da sociedade, obtendo muitas críticas de um público que, apesar de proletário, consumia o idealismo burguês da época. Harold Pinter (1930- ), autor de Velhos Tempos, O Zelador, A Colecção e o autor americano Edward Albee (1928 - ), autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, buscaram a orientação absurda para tecer as suas críticas em favor das classes menos favorecidas, constituindo obras anti-literárias, com o mesmo brilhantismo de Ionesco e Beckett (que ganhou o Prêmio Nobel em 1969), com identidades próprias que lhes deram lugar de destaque na história da arte dramática.

A partir das ideologias de Artaud de quebra com os paradigmas clássicos do teatro ocidental, surgiu o “Teatro Pânico”, uma forma de Teatro do Absurdo calcado no drama e em contextos que mostram a revolta do autor perante o mundo. Apesar de possuir algumas ideias artaudianas, o Teatro Pânico mantem elementos básicos do teatro ocidental, como o diálogo de seus personagens. Esse género foi essencial para reafirmar o Teatro do Absurdo como vertente teatral, propondo a forma agressiva de expor os seus personagens numa crítica mordaz contra a sociedade, onde homens e mulheres vivem suas vidas num limite extremo, sempre numa virtual solidão.



Fernando Arrabal
A concepção de Teatro Pânico nasceu em fevereiro de 1962, em Paris, e misturava terror com humor. A filosofia pânica diz que a memória é fundamental para o homem, pois esse não passa de um grande fundo de saberes que, com o passar dos anos, compõe um quadro estético, ético e moral. Na visão de um dos principais diretores do Teatro Pânico, o espanhol Fernando Arrabal, autor de A Guerra dos Mil Anos, o Pânico mistura a vida privada com a vida artística, o lirismo e a psicologia, onde o teatro passa a ser encarado como um jogo, ou uma festa. Muitos associaram o Pânico com o Dadaísmo, género que contesta a razão em prol do subjetivo. Dessa forma, os espectáculos pânicos propõem, acima de tudo, uma linguagem extremamente transcendental em relação aos temas abordados. Nada disso poderia ser possível sem a estruturação do Teatro do Absurdo que possibilitou no homem uma evolução no que se diz respeito aos seus dogmas.

quarta-feira, outubro 15, 2008

A mulher dos meus sonhos...

A mulher dos meus sonhos
Não é aquela de medidas perfeitas
Nem aquela que ao caminhar se senta nas estrelas
Muito menos aquela que se sente uma estrela de telenovela
Não quero mulheres fúteis, e de coração gelado ou petrificado

A mulher dos meus sonhos,
Não é aquela que possui mais pérolas e diamantes
Nem aquela que tem mais dinheiro numa conta nem cheques para os seus devaneios
Nem aquela que já viajou por todo o mundo e conhece muitos lugares.
Não quero mulheres falsas que perdem o que têm de melhor nos seus lares.

A mulher dos meus sonhos…
Não é aquela que anda por todos os bares
Não é aquela que despreza todos os seres
Nem aquela que se escuta a si própria dizendo frases feitas
Não quero mulheres passageiras que ao primeiro problema fogem em busca de novos mares.

A mulher dos meus sonhos é simples e normal.
Não pára de sorrir e vê o lado bom da vida e aceita-o.
Não se cala quando algo a perturba
Fala frontalmente mesmo que isso possa doer.
Quero uma mulher com um coração enorme e com fantasias.

A mulher dos meus sonhos possui um olhar terno
De andar elegante sem ter de ser arrogante
Gosta de música e não tem medo de cantar, mesmo que cante desafinada.
Sorri por amor ao cozinhar para ela e prova o café antes de mim.

A mulher dos meus sonhos tem um coração gigante.
Dá-me um beijo todas as manhãs e aconchega-me em todas as noites de frio.
Entrega-se ao amor sem reservas e tenta sempre conquistar-me.

A mulher dos meus sonhos… creio que és tu e vou deixar-te fugir.
A mulher dos meus sonhos… és tu e vou-te desiludir…
porque o homem dos teus sonhos… não sou eu.

terça-feira, outubro 07, 2008

Como esquecer alguém em 5 minutos ou talvez mais um bocadinho

Antes de tudo, há que reconhecer que este poderia ser um belo nome para um daqueles livros que as pessoas oferecem umas às outras apenas e só pelo título e que usualmente se encontram em qualquer bomba de gasolina, no corredor do fundo, lado esquerdo, junto aos jornais. Não interessa o autor, nem se alguma vez se leu alguma coisa, nem se os críticos do mil folhas falaram bem, o que importa mesmo, é a mensagem que o título oferece a quem o recebe. E se depois lá dentro, nas páginas que se refugiam na capa, o conteúdo não for grande coisa, isso de nada importa. Entrega-se o livrinho como se estivéssemos a entregar uma senha de papel com uma mensagem, a fazer olhinhos, para a miúda que está na carteira ao lado: “Vai onde te leva o coração!”, “Fazes-me Falta!” “Não há coincidências” e claro o inevitável “Amo-te”.


Houvesse um medicamento, que depois de tomado nos fizesse esquecer a pessoa que amamos e as farmácias ficariam inundadas de gente à sua procura. Existisse uma operação que nos removesse a parte da memória que nos faz lembrar esse alguém e ficariam enormes as listas de espera para essa cirurgia. Mas não existe. Não há. Não se vende, nem se opera.


Mas pode-se esquecer? Pode. Como assim? Ora, usando uma técnica vulgarmente usada pelos bombeiros para extinguir os incêndios. O lendário truque do “Fogo contra Fogo” que basicamente consiste em lançar outro fogo em direcção ao que vem a arder. Assim, queima-se uma área que ainda não esteja ardida, para que quando o fogo lá chegar nada mais tenha para arder. E é limpinho.


O que há a fazer é queimar o que ainda houver de bom e fazer com que as coisas que estejam associadas à pessoa que queiramos esquecer não nos pareçam assim tão agradáveis. E quando ela – leia-se o incêndio – aparecer, já só resta terra queimada.


E assim, aproveitando esta bonita analogia dos incêndios, é justo revelar que aqui o grande problema é o vento, o vento que pode reacender as chamas. E esse vento, pode ser uma chamada dela – que ninguém atenda o telefone – uma súbita vontade de lhe ligarmos nós, às 4 da manhã com uma voz notoriamente embriagada – apague-se já o número – o vento pode ser uma foto dela ainda no quarto – que se guarde isso numa gaveta escura – uma carta que imbecilmente relemos – perigo, perigo! – Aceitarmos um convite para jantar a dois sob o pretexto de irmos falar sobre o ambiente no mundo – isso será muito arriscado – ir a casa dela rever a primeira temporada dos Sopranos em vd. – que fique claro, ao aceitarem o convite, isto já nem será vento, mas possivelmente, um tornado.


E assim, voltando à perniciosa técnica do fogo contra fogo, o mais importante, é queimarmos tudo à volta sem usarmos um único fósforo. É dizermos “isto é muito bonito e tal, mas eu tenho que sair daqui antes que se faça tarde” e assim, ao não permitirmos recaídas que sabemos que só irão adiar o inevitável, extinguiremos o pouco que vai existindo até que tudo fique reduzido a cinzas, tão frias e inertes, que nenhum vento será capaz de as reanimar.

sábado, outubro 04, 2008

O momento da verdade

O famigerado (usando um anacronismo para determinar que foi gerado pela fama) do "Momento da Verdade" que a Sic transmite, é o tema a que me proponho a falar.

Nos tempos idos de Roma, os romanos entretinham-se e alienavam-se com o espectáculo da morte dos cristãos ou dos gladiadores.
Em vários países existem os espectáculos "underground" de lutas de animais. Já em inglaterra no tempo de Shakespeare eram costumeiros os espectáculos de ataques a ursos.

Desde sempre o ser humano necessitou de barbárie para excitar a sua bestialidade.
Até no século passado, os reality shows vieram dar um novo cunho pretensamente mais soft sobre o espectáculo da vida humana. Cada vez mais a troco de dinheiro.

Não só havia os programas de talentos, onde as pessoas tentavam a sua sorte e ridicularizava-se à espera de ganhar uns trocos, como a busca da fama levava à exposição ridicula em programas como Ídolos e derivados.

Hoje, séc. XXI assistimos à devassa da vida privada, a troco de dinheiro, mais uma vez. É a crise que leva a estes actos? Ou é a nossa nova forma de beber sangue na barbárie da vida humana?

Antigamente, essa barbárie era bem mais animalesca, mais carnal, era necessário sangue.

Com o advento do conhecimento sociológico e o desenvolvimento de valores morais que defendem a integridade fisica, não restou aos patrões do "circo romano do novo milénio" procurar a melhor forma de adaptar algo que nos é genético, à luz dos novos tempos.

Nada melhor do que sugeitar familias à exposição, à degradação, à lavagem de roupa suja em praça pública. Mesmo depois dos estragos feitos em pleno programa, sucede-se a onda de comentários e recolha dos destroços, contagem de cadáveres, de tudo o que restou ou começa a desmoronar-se em familias até ali completamente anónimas.

Será que 25.000 euros é compensatório?

Estamos a falar de um conceito, que os filósofos gregos defendiam como objectivo a atingir para viver uma plenitude: o conceito de belo, o conceito de verdade.

A verdade hoje em dia já começa a ganhar outros contornos.
Só quem tem um passado cheio de mentiras suculentas, para serem agora expostas à luz do dia e que revertem em dinheiro (apesar do choque traumático que a familia passe a viver de agora em diante) é que pode e deve participar no dito programa.

Viver uma vida honesta, de verdade, de conformismo e coerência com valores morais e sociais já não é bem a mesma coisa.

O programa é catártico em alguns aspectos (como era catártico o desmembramento de um humano) ou os Autos de Fé que a Inquisição faziam em praça publica.

Em tempo de crise precisamos de catarses... mas entre um programa como "O momento da Verdade" e um bom filme pornográfico, prefiro a segunda opção...

quinta-feira, setembro 04, 2008

Pensamentos...

"Não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso."

William Shakespeare

"Perdoar e esquecer equivale a atirar pela janela experiências adquiridas com muito custo. Se uma pessoa com quem temos ligação ou convívio nos faz algo de desagradável ou irritante, temos apenas de nos perguntar se ela nos é ou não valiosa o suficiente para aceitarmos que repita segunda vez e com frequência semelhante tratamento, e até de maneira mais grave. Em caso afirmativo, não há muito a dizer, porque falar ajuda pouco. Temos, portanto, de deixar passar essa ofensa, com ou sem reprimenda; todavia, devemos saber que agindo assim estaremos a expor-nos à sua repetição. Em caso negativo, temos de romper de modo imediato e definitivo com o valioso amigo ou, se for um servente, dispensá-lo. Pois, quando a situação se repetir, será inevitável que ele faça exactamente a mesma coisa, ou algo inteiramente análogo, apesar de, nesse momento, nos assegurar o contrário de modo profundo e sincero. Pode-se esquecer tudo, tudo, menos a si mesmo, menos o próprio ser, pois o carácter é absolutamente incorrigível e todas as acções humanas brotam de um princípio íntimo, em virtude do qual, o homem, em circunstâncias iguais, tem sempre de fazer o mesmo, e não o que é diferente. (...) Por conseguinte, reconciliarmo-nos com o amigo com quem rompemos relações é uma fraqueza pela qual se expiará quando, na primeira oportunidade, ele fizer exactamente a mesma coisa que produziu a ruptura, até com mais ousadia, munido da consciência secreta da sua imprescindibilidade."

Arthur Schopenhauer

"O amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor."

Oscar Wilde

terça-feira, setembro 02, 2008

Alguns poemas de Bertold Brecht...

"Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vidaEstes são os imprescindíveis"

"Do rio que tudo arrasta diz-se que é violento.
Mas ninguém diz violentas asmargens que o comprimem."

Nada é impossível de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Escolhas...

A vida é feita de escolhas, de decisões, de imprevistos e de percalços.
Podemos não mandar nos nossos sentimentos, não mandamos no coração.
Mas a forma como tratamos as pessoas é algo que realmente escolhemos.
Escolhemos tratar com respeito, escolhemos desrespeitar.
Respeitamos como forma de reconhecimento.
Desrespeitamos como forma de retaliação.
Ignoramos como forma de defesa.
Confrontamos como forma de obtenção da verdade e da justiça das coisas.

Podemos sempre escolher aceitar algo, renunciar algo.
Podemos de facto escolher os nossos amigos, rejeitar os nossos inimigos.
Podemos sempre fazer tudo.
Podemos de facto achar que não mandamos nos nossos sentimentos e ao mesmo tempo escolher ser maus para com o nosso semelhante...

Aquilo que não podemos (e acho que pertence ao senso comum) é responsabilizar sempre os outros. Também não nos devemos culpar exclusivamente a nós. Tudo se resume a alguma escolha mal feita algures no percurso do nosso crescimento. Mas foi apenas uma escolha...

Serão sempre os outros os culpados dos nosso sofrimento, ou fomos nós em algum momento que escolhemos permitir que alguém nos faça sofrer?

Fomos nós que escolhemos iludir alguém, ou foi esse alguém que nos iludiu a nós?

Escolhemos um trabalho que não nos agrada, ou estamos no trabalho perfeito por mero acaso?

Somos merecedores de algo? Ou escolhemos lutar para merecer algo?

A vida é uma enorme árvore, à qual temos que aprender a podar.
E já os sábios romanos usavam o mesmo verbo "putare" para o acto de pensar, e o acto de podar. Ou seja, fazer escolhas...
Cortar os galhos da nossa vida que são mais fracos, para que depois voltem a crescer mais fortes, até darem os seus frutos.

Muitas vezes estamos tão presos às raízes da vida, enterrados na terra, para evitar ver e sentir o que se passa lá fora, que nos esquecemos de podar a copa da árvore.

São as escolhas, boas ou más, serão sempre escolhas...

segunda-feira, agosto 25, 2008

Rifa-se...


(para ler ao som desta música)
Coldplay - The Scientist

Um coração idealista.

Um coração como poucos,

Um coração à moda antiga.

Um coração moleque que insiste em

pregar peças em seu usuário.

Rifa-se um coração que na verdade está um pouco usado,

meio calejado, muito machucado,

e que teima em cultivar sonhos e alimentar ilusões.

Um pouco inconseqüente e que nunca desiste de

acreditar nas pessoas.

Um leviano e precipitado coração que acha que

Tim Maia estava certo quando escreveu e tão bem cantou...

"...NÃO QUERO DINHEIRO, QUERO AMOR SINCERO,

É ISSO QUE EU ESPERO..."

Um idealista, um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende,

que não endurece e mantém sempre viva a esperança

de ser feliz, sendo simples e natural.

Um coração insensato, que comanda o racional

sendo louco o suficiente para se apaixonar.

Um furioso suicida que vive procurando

relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer

sempre os mesmos erros.

Esse coração que erra, que briga, se expõe.

Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.

Sai do sério e às vezes revê suas posições

arrependido de palavras e gestos.

Este mesmo coração tantas vezes incompreendido.

Tantas vezes provocado.

Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional que abre

sorrisos tão largos que quase dá para engolir as orelhas,

mas que também arranca lagrimas e faz murchar meu rosto.

Um coração para ser alugado ou mesmo

utilizado por quem gosta de emoções fortes.

Um órgão abestado, apenas indicado para

quem quer viver intensamente,

contra indicado para os que apenas pretendem

passar pela vida matando o tempo,

defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente que se mostra

sem armaduras e deixa louco seu usuário.

Um coração que quando parar de bater

ouvirá o seu usuário dizer a São Pedro:

---"O Senhor pode conferir, eu fiz tudo certo,

só errei quando coloquei sentimento.

Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este

louco coração de criança que insiste em não

endurecer e, se recusa a envelhecer.

" Rifa-se um coração,

ou mesmo troca-se por outro que tenha

um pouco mais de juízo.

Um órgão mais fiel ao seu usuário.

Um amigo do peito que não maltrate tanto o

ser que o abriga tão carinhosamente.

Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,

mas que incomoda um bocado.

Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda

não foi adotado, provavelmente, por ainda se

recusar a cultivar ares selvagens ou racionais,

por não querer perder seu estilo

e sua verdadeira identidade.

Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.

Um simples coração humano.

Um impulsivo membro de comportamento

até meio ultrapassado.

Um modelo cheio de defeitos,

que mesmo estando no mercado,

faz questão de não se modernizar,

mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.

Um velho coração que convence seu usuário a publicar

seus segredos e a ter a petulância

de se aventurar como poeta.




(Clarice Lispector)

domingo, agosto 24, 2008

Para reflectir...

Estava eu a atravessar o deserto quando vi, sentado ao pé de uma palmeira, num oásis, um árabe com um aspecto muito melancólico. Aproximei-me do homem, que parecia ser negociante de jóias e perfumes e perguntei:

- Que tens amigos, para estares assim tão preocupado? Posso ser-te útil em qualquer coisa?

- Ai! – respondeu o mercador – Estou triste porque acabo de perder uma jóia, o tesouro mais precioso da minha vida!

- Não é caso para tanta tristeza. Que vale uma jóia para quem vai carregado delas?

- Bem se vê que não sabes o valor da que pedi. – lamuriou o árabe.

- Então que tipo de jóia era?

- Oh! Era uma jóia que não mais se tornará a fazer. Tinha sido talhada na pedra da Vida e trabalhada na fábrica da Natureza… Era marchetada por 24 brilhantes enormes e em redor de cada um deles agrupavam-se outros sessenta mais pequenos.

- Por mais preciosa que fosse a tal jóia, se tiveres muito dinheiro, podes voltar a recuperá-la! – disse-lhe eu.

Mas o árabe, saindo da sua lamentação, terminou assim:

- A jóia que eu perdi, era um dia! E um dia perdido não se encontra nunca mais!

sexta-feira, agosto 15, 2008

O nome das coisas...

Um dia vais estar a sós, vais fechar os olhos e tudo estará negro.
Os números da tua agenda irão passar claramente à tua frente e tu não terás nenhum para ligar.
A tua boca vai tentar chamar alguém, mas não há ninguém solidário o bastante para sair a correr e dar-te um abraço, nem colocar-te no seu colo ou acariciar os teus cabelos até que o mundo pare de girar.
Nessa fracção de segundos, quando os teus pés se perderem do chão, vais recordar-te da minha ternura e do meu sorriso infantil.
Virão súbitas memórias agradáveis dos meus abraços e beijos, da minha preocupação contigo e só existirão músicas repetidas no teu rádio: as nossas.

Num novo momento vais sentir um aperto no peito, uma pausa na respiração e vais desejar fortemente para ter de novo o nosso delicioso mundinho, a isso chama-se saudade, aquilo que eu tinha tanto e falava constantemente. E quando finalmente ligares o meu número, ele estará demasiado ocupado, ou até nem será o mesmo, ou até eu nem queira atender-te. E se vieres bater à minha porta ela estará muito trancada, e se estiver aberta mostrará uma casa vazia.

Os teus olhos, ensinar-te-ão o que são lágrimas, aquelas que eu te disse que ardiam tanto.

O nome do enjôo que vais sentir é arrependimento, e a falta de fome que virá chama-se tristeza.

Então quando passarem os dias e eu não te ligar, quando nada de bom te acontecer e ninguém te olhar com os meus olhos encantados... irás encontrar a famosa solidão.

A partir daí, o que irá acontecer, chama-se surpresa.

E provavelmente a causa de todas essas sensações acima...

... é o tal tempo de que tu tanto falavas...

The Gift - Fácil de Entender

quarta-feira, agosto 13, 2008

As minhas palavras na boca de Vinicius de Moraes, Maria Bethânia, Ivete Sangalo e Elis Regina

A grande diferença naquilo que dizemos está na forma em que o dizemos e não o que dizemos.
Impõe-se o silencio, um silencio que não quero assassinar...
Mas os meus artistas favoritos pelos vistos também passaram pelo mesmo, como seres humanos que são.
Para reflectir...

Maria Bethania-Toquinho -Vinicius de Moraes - APELO.


Maria Bethania - Um Jeito Estúpido De Te Amar


ivete sangalo - se eu nao te amasse tanto assim


 elis regina - eu sei que vou te amar

terça-feira, agosto 12, 2008

quarta-feira, maio 28, 2008

Teatro Oficina apresenta: "Tragédia: Uma Tragédia" de Will Eno

Estreia da nova produção do Teatro Oficina “Tragédia: uma
Tragédia”, de Will Eno.

O sol apagou-se. O mundo está às escuras. Uma equipa de jornalistas faz a reportagem: alguém deixou os aspersores da relva ligados; o cavalo de alguém perdeu-se; há conchas pela relva e cães a correr. As comunicações do Governo apelam à calma. É noite em todo o mundo. Ninguém sabe se o sol vai nascer, outra vez. Mas existe uma testemunha, que vai falar.

“Tragédia: uma tragédia” é um texto que embora entrando furiosamente pelo mundo dos meios de comunicação, encontra a sua força na reflexão sobre a condição humana. É um texto que vai criando palavras novas, numa tentativa do abismo verbal que nos explique este mundo onde vivemos e que é forçoso representar para tentar entendê-lo. Will Eno é actualmente um dos autores mais representados em Nova Iorque. Aclamado pela crítica, foi considerado pelo New York Times “o Samuel Beckett da geração Jon Stewart”.

Tradução e Encenação Marcos Barbosa

Com Diana Sá, Emílio Gomes, Luciano Amarelo, Nuno Loureiro e Tiago Barbosa

Cenário e Figurinos - F. Ribeiro
Iluminação - Pedro Carvalho
Som e Música - Sérgio Delgado
Produção executiva - Teatro Oficina

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quinta-feira, janeiro 31, 2008

Das mudanças no Ministério...

(Artigos retirados do site Portugal Diário)

Isabel Pires de Lima esteve 34 meses no Governo. Retrospectiva

Durante os 34 meses que passou no Governo, a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, enfrentou poucas mas intensas polémicas.

Da conturbada exoneração da Directora do Museu Nacional de Arte Antiga, Dalila Rodrigues, que até deixou o Presidente da República surpreendido, à guerra aberta com o autarca do Porto, Rui Rio, por causa do túnel de Ceuta, passando pela demissão do director do Teatro Nacional de São Carlos (Paolo Pinamonti) e do presidente da administração do Teatro Nacional D. Maria II, António Lagarto.

A polémica sobre a colecção Berardo que marcou o primeiro ano de mandato da ministra terminou com a assinatura de um protocolo entre o Governo e o comendador Joe Berardo

A ausência da comemoração oficial dos 100 anos do nascimento do escritor Miguel Torga, a 12 de Agosto do ano passado, caiu muito mal nos meios culturais e políticos, até com críticas do interior do PS.

Em comunicado o Governo, informa que Isabel Pires de Lima saiu a seu pedido. Resta saber se a escritora pretende regressar à Faculdade de Letras do Porto onde ocupava o cargo de professora catedrática, especializada em Literatura Portuguesa.

O jurista José António Pinto Ribeiro assume a pasta da Cultura.

O novo ministro da Cultura do Executivo de José Sócrates é o advogado Pinto Ribeiro, antigo programador-geral da Fundação Calouste Gulbenkian e fundador do Fórum Justiça e Liberdade, associação destinada ao estudo, promoção e defesa dos direitos cívicos em Portugal. O advogado esteve ainda ligado ao Instituto Camões, entre 2004 e 2006, e é administrador da Fundação Berardo.

Pinto Ribeiro, natural de Moçambique, cursou Direito em Coimbra e é ainda o representante legal dos Gato Fedorento e de Sá Fernandes.

Questionado sobre ter aceite o convite do primeiro-ministro para a pasta da Cultura, António Pinto Ribeiro preferiu não tecer comentários neste momento.

Grande amigo de Mário Soares, Pinto Ribeiro esteve sempre ligado ao PS, mas à margem da política activa, apostando na advocacia no escritório J.A. Pinto Ribeiro & Associados, em Lisboa.

O causídico divide a sua vida entre Lisboa e Londres, onde a sua namorada, a jornalista Anabela Mota Ribeiro, trabalha como free-lancer. Os dois conheceram-se quando Mota Ribeiro escrevia para o suplemento DNA, do Diário de Notícias, altura em que fazia entrevistas de grande fôlego a diversas personalidades. Uma delas foi Pinto Ribeiro.

Segundo o curriculum vitae distribuído pelo gabinete do primeiro-ministro, Pinto Ribeiro elaborou vários projectos de diplomas legais para o Governo da República e para os governos dos Açores, da Madeira e de Macau sobre empresas públicas bancárias, sociedades comerciais e legislação respeitante ao chamado «Plano Mateus». Actualmente exercia funções de Administrador da PT Multimédia e da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea-Colecção Berardo.

Deu aulas no Instituto Superior de Economia, na Faculdade de Direito de Lisboa e mais tarde na Universidade Autónoma de Lisboa, sempre na área do Direito Comercial. Leccionou ainda no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Como advogado, Pinto Ribeiro tem estado ligado à área da banca.

Para além do português, o novo ministro fala alemão, inglês, francês, espanhol e italiano e é Grande Cavaleiro da Ordem da Liberdade.

(artigo retirado do Público Online)

Declarações após tomada de posse

Novo ministro da Cultura quer fazer "mais e melhor, com menos meios"

O novo ministro da Cultura, José Pinto Ribeiro, afirmou hoje ser seu objectivo "fazer mais e melhor, com menos meios" na área da cultura.
Falando à saída da sua posse, no Palácio de Belém, Pinto Ribeiro disse esperar atingir esses objectivos com a mobilização de todos os agentes culturais e de todas as pessoas em geral.
O novo ministro da Cultura recusou-se a fazer qualquer avaliação ao desempenho do seu Ministério porque "ainda não estudou os dossiers".
Sobre Isabel Pires de Lima, o ministro disse apenas ter uma boa relação pessoal com a ex-titular da pasta da Cultura.

Ora bem... O advogado dos Gato Fedorento quer fazer mais e melhor... com menos meios???? Ainda mal utilizamos equipamentos que foram construídos e não possuem gestores culturais, programadores, as autarquias não têm verba para a cultura... e vamos fazer mais e melhor com menos meios????

Estaria curioso para ver onde é que isto vai parar... mas tenho medo... muito medo...

Será que teremos uma nova versão do Sasportes? Será que os "menos meios" significa, menos meios do que os poucos que temos? Realmente... Nem sei bem o que diga..!

quinta-feira, janeiro 17, 2008

TUDO QUANTO FOR MERDA A GENTE GOSTA

Recebi por e-mail enviado por uma grande amiga minha, este texto de 1934. O que este texto possui de fantástico, é a sua actualidade e possibilidade de se aplicar transversalmente aos mais diversos assuntos

EXPOSIÇÃO DOS LAVRADORES DO BAIXO ALENTEJO
A SUA EXCELÊNCIA 0 MINISTRO DA AGRICULTURA
Autor: João de Vasconcelos e Sá
Min . da Agricultura: Eng. Leovigildo Queimado Franco de Sousa


Porque julgamos digna de registo
A nossa exposição, Senhor Ministro,
Erguemos até vós, humildemente,
Uma toada uníssona e plangente
Onde evitamos o menor deslize
E onde damos razão da nossa crise.

Senhor... Em vão esta província inteira
Desmoita , lavra e atalha a sementeira,
Suando até a fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa
Da terra, que é delgada e sempre fraca;
A matéria em questão chama-se CACA.

Se os membros desse ilustre ministério
Querem levar o nosso caso a sério
E é nobre o sentimento que os anima,
Mandem-nos cagar toda a gente em cima
Dos maninhos torrões de cada herdade,
E mijem-nos também, por caridade!

0 Senhor Doutor Oliveira Salazar
Quando tiver vontade de cagar
Venha até nós, solícito e calado,
Busque um terreno que estiver lavrado,
E como Presidente do Conselho
Queira espremer-se até ficar vermelho.

A Nação confiou-lhe os seus destinos;
Então comprima e aperte os intestinos,
E se escapar um traque não se importe;
Quem sabe se cheirá-lo dará sorte?
Quantos não porão suas esperanças
Num traque do Ministro das Finanças!

E quem vive tão aflito e sem recursos
Já não distingue os traques dos discursos;
Não precisa falar. Tenha a certeza
De que a maior fonte de riqueza
Desde os montados negros às courelas
Provém da merda que despejamos nelas.

Ah! Merda grossa! Merda fina! Merda boa
Das inúteis retretes de Lisboa!
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura
Mandem-nos muita gente com soltura

E nós daremos trigo em alta escala.
Também nos faz jeitinho a merda rala.
Terras alentejanas, terras nuas,
Desespero de arados e charruas,
Quem as tem, quem as compra, quem as herda,
Sente a paixão nostálgica da merda!...

E que todos os penicos portugueses
Durante pelo menos uns seis meses
Sob o montado ou sobre a terra campa
Continuamente nos despejem trampa,
Adubos de potássio, cal e azote.

Mandem-nos merda pura de bispote;
Não fazemos questão de qualidade;
Formas normais ou formas esquisitas,
Desde o cagalhão às caganitas,
Ou da negra poia à grande bosta,
Tudo quanto for merda a gente gosta.