Se o actor é o elemento fundamental no teatro, não poderia existir sem um espaço onde se possa desenvolver. Podemos definir o teatro como um espaço em que estão juntos os que olham e os que são olhados, e a cena como o espaço dos corpos em movimento. O espaço teatral compreende actores e espectadores, definindo uma certa relação entre eles. O espaço cénico é o espaço próprio aos actores; o lugar cênico é esse espaço enquanto materialmente definido; o espaço dramático é uma abstracção: compreende não somente os signos da representação, mas toda a espacialidade virtual do texto, inclusivé o que é previsto como fora de cena.
O espaço teatral é definido por uma certa relação do teatro com a cidade, relação que a história deve interrogar a cada vez. Assim, o espaço totalizante do teatro grego como figura de uma conquista da cidade enquanto espaço cultural; espaço múltiplo dos mistérios, com os seus lugares descontínuos, figura rasa do universo; aparição, no Renascimento, do espaço com perspectiva, centrado na figura humana, e do olhar centralizador do espectador: "Na base, (...) existe a concepção do homem, actor eficaz na cena do mundo" (P. Francastel). O espaço triplo da dramaturgia isabelina indica a relação nova entre a vida feudal (a plataforma, lugar dos combates, do desdobramento das multidões), a nova diplomacia maquiavélica ( lugar das manobras excusas e dos verdadeiros conflitos) e a interioridade da câmara. No espaço da tragédia clássica devemos ver não a imitação de um corredor imaginário de palácio, mas um espaço abstracto, não mimético. O espaço que imita um lugar do mundo criou-se progressivamente durante o decorrer do século XVIII para chegar ao seu coroamento com Beaumarchais e o teatro do século XIX, na própria medida em que a burguesia constrói o lugar concreto de sua apropriação das coisas. No século XX, após a era naturalista, o espaço mimético desconstrói-se bruscamente, dando lugar a soluções espaciais múltiplas: "desfazer o espaço, noção nova do espaço que a gente multiplica, dilacerando-o" (Artaud).
O teatro nunca está fora da cidade: o espaço teatral é dependente do lugar teatral, ele próprio definido pelo seu tipo de inserção na cidade. O que é representado num palco, por mais naturalista que seja, nunca é um lugar no mundo, mas um elemento do mundo repensado segundo as estruturas, os códigos e a cultura de uma sociedade; o que é representado no espaço teatral nunca é uma imagem do mundo, mas a imagem de uma imagem. Daí provém o trabalho de transposição "semiótica" ou feito por encenadores e cenógrafos, sobretudo na representação contemporânea.
O espaço teatral está ligado à actividade principal que deve ser representada: quando a actividade principal é a da palavra, as cadeiras dos espectadores da nobreza incomodam pouco o espaço trágico do século XVII e as relações de salão aceitam muito bem, no século XIX, um espaço mimético burguês, enquanto guerras e movimentos necessitam do espaço neutralizado da plataforma isabelina; a vontade de historicidade do romantismo pouco se coadunava com o espaço decorativista da cena dos anos 1830. A diversidade das actividades humanas nas sociedades contemporâneas está ligada à plasticidade e à vacuidade do espaço teatral.
A figuração espacial corresponde ao conjunto do universo cultural: a perspectiva do Renascimento vem acompanhada por um recurso a elementos pictóricos, e o telão pintado invade o espaço teatral. Todos os elementos espaciais vinculam-se à estética da época, à cultura do olhar. A representação contemporânea caracteriza-se por uma relação directa com uma estética do descontínuo, ou com diferenças de escala, e pela riqueza do jogo citacional com as obras de outras épocas ou de outras civilizações: assim Kokkos citando Ucello, ou Mnouchkine citando o espaço japonês.
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