segunda-feira, dezembro 20, 2004

Manifestações Absurdas

Abaixo os protestos! Façamos greve às greves! Todos contra as manifestações! Unam-se contra o Associativismo! Preciso de dinheiro para lutar contra os subsídios! Tudo isto é um absurdo!

domingo, dezembro 12, 2004

Visitem este site

Aqui apresento o recém criado site do Teatro Atípico. É um site ainda em construcção. Não está completo, mas em breve já terá mais algumas coisas. Entretanto passem por lá. Já agora, se houver comentários a fazer sobre o site, aproveitem e deixem-nos aqui, pode ser?

http://teatroatipico.web.pt

Se houver também malta com sites de companhias de teatro, indiquem aqui! Terei muito gosto em divulgá-las e consultá-las. Abraços!!!

domingo, dezembro 05, 2004

Petição REDE

Há dias recebi um e-mail de uma amiga com uma petiçao. Achei-a interessante - até porque aborda temas sobre o quais já aqui escrevi. Fiquei contentíssimo com esta iniciatíva válida e espero que surta efeito. Fica aqui a minha contribuição e força para esta iniciativa. E peço aos visitantes deste blog que também colaborem se concordarem com as reivindicações.

A REDE é uma associação fundada por estruturas independentes de dança cujo objecto é a defesa dos interesses da comunidade de artistas, agentes ecolaboradores ligados à dança contemporânea ou a áreas com as quais a dançacontemporânea mantém um contacto privilegiado, a promoção e a divulgação da dança contemporânea portuguesa por quaisquer meios que considere por convenientes, a promoção a nível nacional e internacional da dança contemporânea portuguesa, bem como o exercício de actividades de pressão junto das entidades públicas e privadas em benefício dos seus associados Fundadores: Bomba Suicida, C.E.M, C.E.N.T.A, Danças na Cidade, Eira, Fórum Dança, Jangada de Pedra, Ninho de Víboras, O Rumo do Fumo, Re.al eTransforma

Passo agora a citar o autor da petição:

Caros Amigos,A REDE - Associação de Estruturas Para a Dança Contemporânea, pôs háalgunsdias a circular o Manifesto - a Cultura do Desperdício, que poderá serassinado por todos e que será entregue, posteriormente, por aquelaassociação à Sra. Ministra da Cultura.Porque achamos que esse Manifesto releva aspectos que são de importânciavital para a continuidade do desenvolvimento das actividades artísticas emPortugal e manifesta preocupações que dizem respeito a todos os cidadãos,associamo-nos a esta petição fazendo-a circular junto dos subscritores da nossa newsletter.

O Director Artístico

José Filipe Pereira

Para subscreverem esta petição dão um salto a http://www.petitiononline.com/rederede/petition.html


segunda-feira, novembro 15, 2004

Uma pergunta existencial...

Depois do meu especáculo, os miúdos que vão assistir podem fazer perguntas aos actores. As perguntas podem ser sobre os mais variados temas. E realmente hoje fixei-me mais numa pergunta (que já me foi feita variadas vezes) que um dos alunos me fez. A pergunta era tão simples como isto: "Gostam da vossa profissão?"

Realmente, o que nos levará no fundo a gostar de ser actores? Neste meio ambiente haverá tantas coisas assim que nos fazem ter uma paixão por esta arte? Hoje já não sei. Há quem goste de ser actor, porque não sabe fazer mais nada e este é o último reduto de sobrevivência. Há quem goste de ser actor, porque está na moda e a fama traz outros dividentos (ser actor é só um pretexto). E há quem goste de ser actor porque sente que é uma missão que lhe foi incumbida. Que através do teatro pode passar uma mensagem, mudar ideiais, ser didático, causar sorrisos entre inumeras outras coisas.

Mas para quem quer escolher pelo último caminho, este é o mais duro de todos! O mais ingrato, o menos reconhecido. Mas a quem se mantiver nesse caminho mais tortuoso, os meus parabéns. São os que realmente gostam da sua profissão.


sexta-feira, novembro 12, 2004

A missão do Actor na Sociedade

Como diz o outro: "Fico chateado. É claro que fico chateado".

Custa-me andar por aí e não sentir que hoje em dia o actores não tenham uma causa, Não sejam militantes, não lutem por ideais, estéticas, etc.

Está tudo numa pasmaceira tão grande que até dá vómitos! A nossa classe está no que está. Sem definições profissionais decentes. Qualquer palmo de cara faz um filme sem nunca ter tido uma aula de interpretação. Mas a nós não nos convidam para os desfiles de moda! Nem para posar para catálogos de roupa. A vocês actores ou leigos, não vos incomoda? Porque se isso não vos faz mossa, então não mereceis respirar o ar que se respira em cima de um palco! Por outro lado isso voz incomoda mas sois impotentes ou coniventes, é porque não sois "animais de palco". Pertencereis também à classe dissimulada dos vaidosos, cabotinos, narcisistas que se querem exibir numa feira de vaidades fútil e fugaz!

Incomoda-me não exporem o que vos vai na alma. Chateia-me a vossa passividade! Entristece-me a vossa falta de coragem. Não há militancia! Falam falam mas não dizem nada! As únicas tentativas que já vi de atitude, foi para que se juntem em redor de uma mesa, bebam uns copos, fumem uns cigarros e até uns charros e o resto é falar de bolas de sabão!

O "Eu no Teatro" não é a mesma coisa que "O Teatro em Mim"!

terça-feira, novembro 09, 2004

A mentira de algumas Associações Culturais

Bem... não vou começar com o tradicional pedido de desculpas pela falta de produção literária deste blog... eu sei, eu sei... já lá vão alguns meses que não venho cá e isto anda muito desértico! Além disso não vou dar desculpas de modems estragados, facturas que não foram pagas, etc...

Houve um período de férias, sem data de vencimento prevista. E agora cá volto... ou seja... re-volto. E é isso mesmo, meus amigos... ando revoltado!

Cada vez em Portugal se formam menos companhias profissionais de Teatro que se assumam como tais. Proliferam como cogumelos as tão conhecidas e bem intencionadas Associações Culturais. O que é afinal o raio de uma Associação Cultural? Não vou estar aqui com explicações detalhadas sobre isso. (Para isso vão a http://www.google.com e digitem as palavras "Definição" "Associação Cultural" ou coisa que o valha.) A única coisa que posso aqui exprimir é que uma Associação Cultural, muitas vezes é criada com o intuito cobarde de fugir às papeladas e encargos que uma Companhia Profissional acarreta. Criam-se Associações sem fins lucrativos, porque não há projectos artisticamente pertinentes que consigam perfurar e competir com os outros candidatos aos subsídios do Ministério da Cultura. Mas ao mesmo tempo ainda se permitem a competir com eles. Logo, é uma forma de "mamar" politicamente correcta. Mas no entanto não deixam de ser encaradas como empresas que produzem espectáculos em massa (e essas ainda não são as piores) ou então não produzem nenhum!

O que é uma Associação Cultural? Associa culturas? Há trocas interculturais? Promove a cultura... que cultura? As que se encontram nos meios rurais, ainda prestam serviço à comunidade, recuperando raízes e tradições da nossa cultura - A cultura Portuguesa ou a cultura da região em que se inserem. Mas outras há, que funcionam como pretensas (e falsamente modestas) companhias de teatro que apenas promovem o "seu" teatro, funcionando como uma máquina de fazer dinheiro que ao final da época fiscal, apresentam despesas suficientes para que o lucro seja zero....

E quem é o público alvo destas ditas Associações Culturais? Isso é uma coisa que ainda hoje não sei responder... mas geralmente são escolas, infantários, grupos organizados... ou seja, quem estiver disposto a PAGAR para que a dita "cultura" teatral seja difundida.

Aos que estão atentos ao funcionamento destas ditas Associações, nomeadamente nos grandes meios urbanos, digam lá se concordam ou não comigo...

quarta-feira, julho 28, 2004

Teatro Atípico de Novo em Cena

O Teatro Atípico estará novamente em cena na próxima sexta-feita dia 30 no palco do Tertúlia Castelense, no Castêlo da Maia. Com o seu mais recente espectáculo que dá pelo nome de "Ah Ah".

Para quem estiver interessado em ir aqui fica um conselho: cheguem lá por volta das 10 da noite. O espectáculo começa às 11, mas as mesas ficam rapidademte ocupadas!!!! Espero que se divirtam. E depois deixem por cá as vossas opiniões.

Para saberem como é que lá se vai parar vão ao site do
Tertúlia Castelense  e saberão lá as informações mais necessárias

 
Aqui fica uma imagem do flyer que anda a ser distribuído por aí
 
 


segunda-feira, julho 12, 2004

Espaço e Teatro

Se o actor é o elemento fundamental no teatro, não poderia existir sem um espaço onde se possa desenvolver. Podemos definir o teatro como um espaço em que estão juntos os que olham e os que são olhados, e a cena como o espaço dos corpos em movimento. O espaço teatral compreende actores e espectadores, definindo uma certa relação entre eles. O espaço cénico é o espaço próprio aos actores; o lugar cênico é esse espaço enquanto materialmente definido; o espaço dramático é uma abstracção: compreende não somente os signos da representação, mas toda a espacialidade virtual do texto, inclusivé o que é previsto como fora de cena.

O espaço teatral é definido por uma certa relação do teatro com a cidade, relação que a história deve interrogar a cada vez. Assim, o espaço totalizante do teatro grego como figura de uma conquista da cidade enquanto espaço cultural; espaço múltiplo dos mistérios, com os seus lugares descontínuos, figura rasa do universo; aparição, no Renascimento, do espaço com perspectiva, centrado na figura humana, e do olhar centralizador do espectador: "Na base, (...) existe a concepção do homem, actor eficaz na cena do mundo" (P. Francastel). O espaço triplo da dramaturgia isabelina indica a relação nova entre a vida feudal (a plataforma, lugar dos combates, do desdobramento das multidões), a nova diplomacia maquiavélica ( lugar das manobras excusas e dos verdadeiros conflitos) e a interioridade da câmara. No espaço da tragédia clássica devemos ver não a imitação de um corredor imaginário de palácio, mas um espaço abstracto, não mimético. O espaço que imita um lugar do mundo criou-se progressivamente durante o decorrer do século XVIII para chegar ao seu coroamento com Beaumarchais e o teatro do século XIX, na própria medida em que a burguesia constrói o lugar concreto de sua apropriação das coisas. No século XX, após a era naturalista, o espaço mimético desconstrói-se bruscamente, dando lugar a soluções espaciais múltiplas: "desfazer o espaço, noção nova do espaço que a gente multiplica, dilacerando-o" (Artaud).

O teatro nunca está fora da cidade: o espaço teatral é dependente do lugar teatral, ele próprio definido pelo seu tipo de inserção na cidade. O que é representado num palco, por mais naturalista que seja, nunca é um lugar no mundo, mas um elemento do mundo repensado segundo as estruturas, os códigos e a cultura de uma sociedade; o que é representado no espaço teatral nunca é uma imagem do mundo, mas a imagem de uma imagem. Daí provém o trabalho de transposição "semiótica" ou feito por encenadores e cenógrafos, sobretudo na representação contemporânea.
O espaço teatral está ligado à actividade principal que deve ser representada: quando a actividade principal é a da palavra, as cadeiras dos espectadores da nobreza incomodam pouco o espaço trágico do século XVII e as relações de salão aceitam muito bem, no século XIX, um espaço mimético burguês, enquanto guerras e movimentos necessitam do espaço neutralizado da plataforma isabelina; a vontade de historicidade do romantismo pouco se coadunava com o espaço decorativista da cena dos anos 1830. A diversidade das actividades humanas nas sociedades contemporâneas está ligada à plasticidade e à vacuidade do espaço teatral.
A figuração espacial corresponde ao conjunto do universo cultural: a perspectiva do Renascimento vem acompanhada por um recurso a elementos pictóricos, e o telão pintado invade o espaço teatral. Todos os elementos espaciais vinculam-se à estética da época, à cultura do olhar. A representação contemporânea caracteriza-se por uma relação directa com uma estética do descontínuo, ou com diferenças de escala, e pela riqueza do jogo citacional com as obras de outras épocas ou de outras civilizações: assim Kokkos citando Ucello, ou Mnouchkine citando o espaço japonês.

sábado, julho 03, 2004

Workshops e Ateliers de Expressão Dramática...

Cada vez mais observo a criação de workshops e ateliers de expressão dramática, dança, movimento, expressão plástica, etc etc etc.

Há uns anos, era raríssimo encontrar folhetos a anunciar workshops. Hoje toda a gente faz workshops. E cobram 100 euros ou mais por inscrição num workshop de 7 dias... onde todos sabemos que certas matérias não se desenvolvem nem em 7 meses...

O que mais me irrita é que grande parte dos workshops não atribuem certificações homologadas. São realizados ou a titulo individual ou associativo. O que não percebo é porque se paga algo que depois não nos dá ou um diploma ou um certificado de participação...

Infelizmente o Governo não contempla esta matéria, pois tudo é feito à vontade do freguês. Grande parte dos workshops até são ministrados por pessoas sem habilitações pedagógicas...

Se antigamente havia quem vendesse na feira o elixir da juventude ou a cura para todos os males, hoje em dia no panorama cultural português, observo a proliferação de determinados "charlatães" culturais que apregoam a formação criativa dos jovens e adultos preocupados principalmente com os lucros que as inscrições poderão dar...

sexta-feira, julho 02, 2004

De volta...

Bom... acho que a primeira coisa que deva dizer após este interregno é: Voltei...

Antes de mais nada, gostaria de pedir desculpa aos leitores deste blog (devem ser uns 3 sem contar comigo), pela falha na produtividade textual. Isto deve-se a vários factores. O principal, os meus compromissos profissionais, que me levam de terra em terra em digressão e a internet por vezes não existe em todo o lado ainda em Portugal.

Este afastamento provávelmente fez com que agora eu venha a escrever "pró boneco" como se diz... mas não importa porque eu sei que tenho ainda 1 leitor fiel... que sou eu quando estou a fazer revisão ortográfica. Mesmo assim, obrigado por continuarem a cá passar

sábado, junho 05, 2004

O Clown - A criança que vive em cada um...


Clown em inglês quer dizer palhaço e tanto o clown como o palhaço tem duas origens nos bandos de bufões medievais e na Commédia del’Arte italiana, possuindo a mesma função essencial: expor a estupidez do ser humano e as suas relações.

Mas originamente, clown vem do inglês clod, termo que se refere ao camponês e ao seu meio rústico, a terra, os primeiros actores simulavam camponeses astutos provocando risos. Já o palhaço vem do termo italiano paglia (palha) usada para revestir colchões, pois a primeira roupa do palhaço era feita do mesmo tecido grosso e às listas do colchão.

O palhaço é uma personagem cómica, enquanto que o clown não representa, ele é. Chaplin não representa, ele é Charlot nas diversas situações que permitem revelar desde a sua astúcia até à sua ingenuidade. François Fratellini, de tradicional família de clowns europeus dizia: “No teatro, os comediantes fazem de conta. Nós fazemos as coisas de verdade”.

O Clown e Sentido Cómico. O palhaço circense é muito falador, tem um ritmo acelerado e faz coisas constantemente. Para ele é mais importante o que vai fazer: o truque, o tropeção, o estalo, os tombos, etc. Já o clown vai por outro caminho, procurando dilatar o lado ingénuo, ridículo, patético do próprio actor. Assim o clown é pessoal e único, não dando tanto destaque ao que vai fazer, mas como vai fazer as coisas. É importante sempre a relação entre a sua pessoa e o que ele está a fazer. Pode-se dizer que o palhaço quer ser engraçado e o clown tenta ser sincero e coerente com o seu modo de pensar primário e puro.

Quando nos lembramos dos clowns do cinema fica mais fácil entender essas características: Oliver Hardy (o Bucha) e Stan Laurel (o Estica) formaram a mais famosa dupla de clowns, em que o Bucha é racional, inteligente e o Estica o ingênuo, de boa-fé, emotivo, mas nunca conseguem nada porque se portam como idiotas. Charles Chaplin imortalizou a figura do clown, com sua forma meiga e atrapalhada. Outros clowns famosos do cinema foram, Harold Loyd, Buster Keaton, Max Linder, os irmãos Max, Jerry Lewis.

O actor para desenvolver um clown deve permitir que o seu lado mais ingénuo, os seus raciocínios mais primários se manifestem.

O clown apenas expõe o seu íntimo, as suas fraquezas, o seu lado patético e ridículo, por isso o seu nariz vermelho é a menor máscara que existe, a que menos esconde e a que mais revela. Daí provoca a identificação e o riso, pois faz o homem rir de si mesmo. Os clowns, em bandos, em duplas ou solitários, ao realizar incursões nos mais diversos ambientes, como ruas, praças, metros, restaurantes, supermercados, festas, representam uma forma de levar a poesia para locais onde dificilmente ela chega, ou pelo menos é percebida, quebrando a rotina das pessoas, além de ser uma forma de resgatar valores da humanidade, generosidade, fraternidade, amor, que o ser humano tem vindo a perder. Por outras palavras: o clown é uma espécie de museu vivo de valores humanos esquecidos e muitas vezes, após uma apresentação, resgatados com fiel originalidade.


sexta-feira, maio 28, 2004

Também a não perder...!

“Um dia, o escaravelho contador de histórias chamado Bocage regressou. Ninguém sabe de onde porque ninguém sabia para onde é que ele tinha ido…”

in, Tepluquê
Manuel António Pina

O Projecto_de_Papelão tem o prazer de Vos convidar a ouvir sobre o regresso de Histórias que tu me contaste que te conto eu.

Estreado no Porto em Setembro de 2003 com encenação de Maria João Vicente e criado ainda no âmbito da finalização da Licenciatura em Estudos Teatrais da Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo, Histórias que tu me contaste que te conto eu, dirige-se especialmente a crianças entre os 6 e os 12 anos e a todos aqueles que partilhem do gosto de ouvir e ver contar histórias.

Neste regresso, informamos que Histórias que tu me contaste que te conto eu, estará em Évora, nas instalações do Pimteatro, nos dias 29 e 30 de Maio e em Guimarães, nas instalações do Teatro Oficina, nos dias 8 e 9 de Junho.

Aproveitamos ainda para Vos convidar a um passeio pelos Jardins do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no fim de semana de 5 e 6 de Junho, onde poderão assistir, ao ar livre, à apresentação de algumas das Histórias que tu me contaste que te conto eu.

Ficha Técnica e Artística do Espectáculo

Encenação: Maria João Vicente
Interpretação: Catarina Lacerda, Marta Leitão,Rodrigo Malvar, Rosário Costa
Composição e interpretação musical: Blandino
Design de luz: Ricardo Santos
Operação de luz: Gilberto Oliveira
Cenografia e Figurinos: Projecto_de_Papelão
Livro Original: Histórias que me contaste tu de Manuel António Pina
Adaptação dramatúrgica: Projecto_de_Papelão

Produção: PANMIXIA – Associação Cultural /Projecto_de_Papelão

Fica o convite feito assim como o desejo de nos encontrarmos neste regresso…


Projecto_de_Papelão
Rua do Monte Tadeu, nº153
4000 – 342 Porto
contactos. 96 601 80 87 / 96 764 89 29 / 96 663 51 44

e-mail: esquinas_4@hotmail.com

Um blog digno de visita

Deixo aqui a sugestão para visitarem este recente blog. A sua pertinência espelha-se nos conteúdos dos posts criados por Krip (um grande abraço para ti!) Não deixem de passar por lá. Um blog sobre a caixinha que mudou o mundo. Agora talvez nos reste pensar para que lado é que ela mudou o mundo: para melhor ou para pior????

Visitem a Caixinha Mágica e façam esse blog durar muito tempo!!!!!

quinta-feira, maio 27, 2004

Sabia que...

Eis aqui algumas curiosidades cronológicas da nossa tão "conhecida" ou "desconhecida" história Teatral Mundial

534 a.C. - A primeira tragédia Grega, é apresentada por Téspis.
200 a.C. - Teatro (recitativos e Teatro de Sombras) nas cavernas hindus.
55 a.C. - Primeiro anfi-teatro em Roma.
Séc. XII - Primeiro drama em língua popular (Adam, na França).
1244 - Primeira representação pública de um Auto Sacramental (Pádua).
1430 - Profissionalização dos actores, em Inglaterra. (dá para reflectir sobre o estado da profissionalização dos actores em Portugal...)
1477 - Controlo dos censores às obras teatrais é ordenado pelo Parlamento Francês.
1502 - O fundador do teatro português, Gil Vicente estreia-se na arte dramática.
1529 - Os primeiros papéis femininos são criados em Ferrara, pelo grupo de Rozzante.
1549 - Primeiro teatro fixo fundado em Roma.
1576 - Fundação do primeiro teatro público em Londres.
1599 - Inauguração, em Londres, do teatro de Shakespeare, chamado "The Globe"
1620 - Aleotti inventa os bastidores.
1658 - Surge em Paris Molière, com o seu grupo de actores.
1672 - Surge o primeiro teatro na corte de Moscovo.
1703 - Estreiam-se os primeiros comediantes americanos.
1750 - É fundado o primeiro teatro público russo.
1827 - O fundador da 1ª cia. brasileira de teatro, o actor João Caetano estreia-se no Rio de Janeiro.
1870 - Carlos Gomes estreia O Guarani, no Scala de Milão.
1896 - Construção do primeiro palco giratório, em Munique.
1925 - Pirandello cria em Roma o Teatro d 'Arte.

Estas, entre muitas outras curiosidades de uma arte tão rica, nobre e antiga...

domingo, maio 23, 2004

Já Stanislavski dizia...

O texto a seguir é um excerto do clássico "A preparação do actor", de Stanislavski. Como é sabido, o livro é apresentado na forma de uma narrativa em que um diretor, Tortsov, ensina técnicas de interpretação aos seus jovens alunos. Certamente, o mais interessante da passagem é o carácter inédito de uma ideia que na época não era comum:

"E agora recordem com firmeza o que lhes vou dizer: o teatro, pela publicidade e pelo seu lado espetacular, atrai muita gente que quer apenas tirar proveito da beleza própria ou fazer carreira. Valem-se da ignorância do público, do seu gosto adulterado, do favoritismo, das intrigas, dos falsos êxitos e de muitos outros meios que não tem relação alguma com a arte criadora. Esses exploradores são os inimigos mais mortíferos da arte. Temos que usar contra eles as medidas mais severas e se for impossível reformá-los será necessário afastá-los do palco. "


Constantin Stanislavki (1863-1938), in "A preparação do actor"

sexta-feira, maio 14, 2004

Polémica Suspeita de fraude assombra Moliére

Livro francês denuncia que o dramaturgo usava um "escritor fantasma"

Esta notícia chegou-me via mail. Será interessante divulgá-la. Lembro-me de uma teoria que surgiu também a propósito de Shakespeare.

"Aconfirmar-se a teoria, podemos estar perante uma das maiores fraudes literária de toda a História: Moliére pode não ter sido o autor de diversas obras hoje reconhecidas como fundamentais, casos de "O avarento", "Tartufo", "Misantropo" e "Don Juan". A revelação - verdadeiramente bombástica - é feita no novo livro de Denis Boissier, "O caso Moliére", que anteontem foi apresentado em Paris.
Segundo aquele romancista francês, boa parte da produção de Moliére, incluindo os títulos supracitados e outros, deve-se, na verdade, a um dramaturgo seu contemporâneo, Pierre Corneille.
"O caso Moliére" sustenta, de acordo com relato ontem publicado no jornal "France Soir", que Corneille foi o "escritor fantasma" do célebre dramaturgo do século XVII, cujo nome verdadeiro era Jean-Baptiste Poquelin.
A partir de uma investigação minuciosa sobre as biografias oficiais de Moliére e de Corneille, o escritor Denis Boissier aponta mais de uma centena de provas para a sua teoria - que tornam evidente a fraude que se mantém há mais de três séculos.
O caso, assegura o autor francês, é simples e traduz-se em várias perguntas: "Como era possível a Moliére produzir tantas obras em tão pouco espaço de tempo? Por que mudou o seu nome de Jean-Baptiste Poquelin para o pseudónimo Moliére só depois de conhecer Corneille? E por que é que este último nunca se pronunciou sobre as obras do seu compatriota?
A tese que agora expõe a "fraude Moliére" já foi defendida por diversas vezes desde 1919, quando o escritor Pierre Louys afirmou que "a assinatura do dramaturgo tem de ser comprovada". Recentemente, um outro especialista em análise estilística, Dominique Labbé, professor do Instituto de Estudos Políticos de Grenoble, revelou a "gritante proximidade" entre os textos de Moliére e de Corneille - na sua opinião, que é "99,9% segura", pelo menos 16 peças de Moliére foram escritaspelo seu autor fantasma.
Apesar de toda a polémica, os "moliéristas" não estão dispostos a aceitar a teoria do livro "O caso Moliére". Diversas instituições parisienses, desde a Universidade Sorbona até à Comédia Francesa classificaram como "absurda" atese da fraude."

Já não se pode ser génio neste mundo..?

sábado, maio 08, 2004

Nasceu o Logotipo do Teatro Atípico

Ainda aqui não falei do Teatro Atípico. Um grupo de teatro cómico, ou uma associação de actores que se dedicam ao teatro Absurdo e à comédia. O Teatro Atipico já tem quase 3 anos de idade. Embora só tenha sido baptizado há um ano atrás. Aos poucos, este projecto vai crescendo (uma vezes mais, outras menos...) e isto graças à preserverança dos seus elementos (fixos e convidados). É que não trabalhamos com apoios, subsídios, patrocínios ou coisa que o valha. Por vezes quase que temos de pagar para apresentar os nossos espectáculos, sempre vocacionados para Bares e Café Concerto. O Teatro Atípico também é de quem colabora com ele. Inclusivé outros grupos onde existe uma realação de amizade acima de tudo. E aqui quero homenagear o belo exemplo dos Palmilha Dentada, nas pessoas do sr. Rodrigo Santos, Ivo Bastos e Ricardo Alves.

E agora senhoras e senhores, pela primeira vez lançado na web, o logotipo do Teatro Atípico:



O designer deste logotipo foi Pedro Guimarães. Aqui fica o nosso muito obrigado... e peço desculpa por não me lembrar do nome... mas mais tarde irei tratar disso!

sábado, abril 24, 2004

Às portas da Revolução (Parte I)

Faltam algumas horas para que o trintão 25 de Abril cumpra mais um aniversário. A ideia de revolução surge e é falada constantemente nesta altura do ano. Comemora-se o nascimento de uma democracia que derrotou uma ditadura. As mudanças de ideologias. A libertação social e comportamental. A liberdade de expressão. A criação livre. Antes do 25 de Abril de 74, outros mais pequenos houveram nas mais variadas áreas. As conspirações literárias de uma nova estética que nasciam envoltas no fumo de cafés e velhas arcadas. As tertúlias secretas e os manifestos que traziam o prenúncio de uma nova luz. Era a eterna luta dos "ismos".

Essa tenacidade e força de lutar e fazer vingar a vontade da obra do artista (plástico ou literário) ao longo dos tempos foi-se perdendo, talvez...

Hoje já não há espaço para tais revoluções. Porque o comodismo não permite o pulsar energético do coração. A vontade de cativar outros para uma ideologia. A luta dos ideais estagnou na sociedade actual. Os ideais individuais podem surgir aqui e ali. São os sonhos de cada um. Mas os sonhos colectivos não sobrevivem, graças ao egoísmo de todos. Já não há tertúlias, manifestos, vontade de mudar. Atravessamos um enorme período de crise existencial e ninguém se apercebe disso. A busca da identidade é um "vale-tudo". O que daí resulta em nada... Já se perdeu a coragem de olhar nos olhos, de falar ao coração com o coração na boca. Já não há exaltações, espíritos fogoso que enaltecem a vontade do sonho e que não conseguem reprimir o enorme frémito de explodir e implodir dentro da sua ideologia. Os valores de cada um e os valores de um todo!

segunda-feira, abril 19, 2004

A que velocidade queremos nós a fama?

A fama deveria ser considerada o 8º pecado mortal. Para que se quer a fama? O que se faz com ela? Será que para se atingir a fama, é necessário correr riscos, esquecer a auto-estima, os valores, os afectos? Provavelmente não será essa a verdadeira fama. Eu comparo a fama à comida. Temos a "fast-fame", comparável a um hamburguer. Dos tempos modernos, eficaz, rápida, comestível, digerível e rápidamente expelida, inutilizada e ultrapassada. E a fama "tradicional". Um prato que demora tempo a confeccionar, leva bastantes ingredientes, saborosa, temperada, com sal q.b., para ir comendo devagar, saboreando cada momento.



A nossa sociedade actual obriga-nos a viver a um ritmo alucinante. Por isso aplicamos essa noção de velocidade a tudo o que nos rodeia, inclusive ao universo que povoa os nossos sonhos. E a fama é um dos habitantes mais "famosos" desse mundo. Querer atingi-la rapidamente, pode ser a mesma experiência que partir à procura de um pote de ouro na ponta de um arco-íris. Quando queremos desesperadamente atingir a fama, aquela que verdadeiramente atingimos é a fama de idiotas. E olhem que´há muita gente a ganhar dinheiro à custa disso. Basta vermos as figuras tristes que desfilam pelas passereles desses freak-shows denominados "Uma mulher de sonho", "ìdolos" e afins. Os pobres coitados a quem lhes são dilacerados os sonhos e as esperanças, acabam por ter um momento de tv onde todos param para os ver. No entanto, o nascer da fama para esses, acabou por ser um nado morto. Mas quem disse que a fama rápida não é cruel e não tem um preço elevado?

Assim se pagam os pecados... com preços elevados!

segunda-feira, abril 12, 2004

Se quiserem falar comigo... ou contribuir com textos.

Aqui fica o endereço reservado para permitir aos interessados participar com ideias, temas, tópicos de discussão, críticas de teatro, o que quiserem. Para isso, enviem o vosso email para subpalco@hotmail.com. Se quiserem podem adicionar ao vosso messenger para conversar sobre teatro. Estejam à vontade! Espero a vossa participação. E já agora, obrigado pelos comentários. Só é pena não haver mais e com mais polémica!

sábado, abril 10, 2004

O Actor


O actor acende a boca. Depois os cabelos. Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeça de búfalo, de veado, de rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela. Bocado janela para fora. Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.

O que rutila, o que arde destacadamente na noite, é o actor, com uma voz pura, monotonamente batida pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca e retira o adjectivo da coisa, a subtileza da forma e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã na sua divagação de maçã. Fabrica peixes mergulhados na própria labareda de peixes. Porque o actor está como a maçã. O actor é um peixe.

Sorri assim o actor contra a face de Deus. Ornamenta Deus com simplicidades silvestres. O actor que subtrai Deus de Deus e dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa a distância de Deus.
Embrulha, desvela.

O actor diz uma palavra inaudível. Reduz a humanidade e o calor da terra à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro. O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.

O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor. Como a unidade do actor.

O actor é um advérbio que ramificou de um substantivo. E o substantivo retorna e gira, e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente do nome. Nome que se murmura em si, e agita, e enlouquece.
O actor é o grande nome cheio de holofotes. O nome que cega. Que sangra. Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo, enche o corpo com melodia, corpo que treme de melodia.

Ninguém ama tão corporalmente como o actor, como o corpo do actor.
Porque o talento é a transformação. O actor transforma a própria acção da transformação.
Solidifica-se. Gasifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto, faz crescer o acto.
O actor actifica-se.

É enorme o actor com sua ossada de base, com suas tantas janelas, as ruas.
O actor com a emotiva publicidade.

Ninguém ama tão publicamente como o actor, como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto estado de pureza. O actor ama em acção de estrela, acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento de onde brota a pantomima.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama, vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente como é puro.

Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral

O actor em estado geral de graça.

Herberto Helder

sábado, abril 03, 2004

27 de Março - Dia Mundial do Teatro

(Por impossibilidade física não me foi possível cumprir a promessa que fiz a propósito do dia mundial do Teatro. Só me serve para mais uma vez aprender a não fazer promessas que não sei se hei-de cumprir...)

PARA QUE SERVE O TEATRO?

O Teatro é em primeiro lugar um jogo. Antes de ser clássico ou moderno, poético ou político, catártico ou crítico, o Teatro é uma forma de vida onde o que está em jogo é justamente a possibilidade de jogar a existência. O Teatro é, de todas as artes, a mais próxima da Vida porque ele é o Jogo dos Homens.
Podemos desde logo afirmar que o Teatro sempre existiu porque vive em cada um de nós, seres essencialmente teatrais. O Teatro ou o instinto teatral parece pois corresponder a uma necessidade universal do homem que é a necessidade de transfiguração. Segundo Aristóteles, desde a infência, os homens têm inscrito na sua natureza, simultâneamente uma tendência para representar e uma tendência para ter prazer em assistir às representações teatrais. Porque o Teatro, mesmo sob as suas formas estéticas mais complexas, continua a ser um Jogo. Podemos traçar um percurso que vai do desejo de teatro mais infantil até às portas da profissão e não, como vulgarmente se afirma, um percurso do jogo ao teatro.

O Teatro existe pela necessidade dos Homens brincarem. Hoje mais do que nunca. Porque "hoje, os deuses morreram, estamos sozinhos, o mito esvaziou-se, a tragédia abandonou a cena da cidade grega e foi habitar para o nosso inconsciente. (...) Ficou-nos a nevrose para nos preservar dela, resta-nos o Teatro." (Pierre Bugard)

sábado, março 20, 2004

Paragem forçada...

Antes de tudo, quero agradecer os comentários simpáticos que têm deixado neste blog. Gostaria de ter uma produção mais regular, no entanto por motivos profissionais não tenho tido tanto tempo como gostaria. Outro impeditivo no passado recente, foi o facto de ter mudado de computador e andar com problemas na ligação à internet. Já agora, aproveito para informar que pretendo alargar a utilização deste espaço a outros(as) leitores(as) que pretendam contribuir com textos reflexivos sobre teatro e/ou críticas de produções teatrais que vejam aqui em Portugal ou no estrangeiro.

Brevemente, estará publicado aqui um texto a propósito do dia 27 de Março - Dia Mundial do Teatro.

Até breve...

domingo, fevereiro 29, 2004

Sois todos uns trastes



"Literatura","escritores", quase são palavras que se escrevem com maiúsculas. De qualquer forma, pretendido pelos escritores ou não, e eu creio: pretendido, "escritor" é uma palavra que parece ter vocação de maíuscula académica e solene.
É verdade que o escritor, os escritores, procuram respeito, têm medo da sua própria natureza, fogem à sua condição e querem ser cortesãos ou académicos.
Os trabalhadores do irracional, os que mexem e remexem na angústia, na dor, na crueldade, nas paixões mais baixas (todas são bastante baixas...) fazem com que todo esse sangue e pús escrito, não tenha nada a ver com eles. Eles não! Eles, gente normal, pessoas decentes e educadas... "Essas coisas eu escrevo-as mas não as sinto." Por favor! Quadrilha de degenerados e anormais. E ainda por cima hipócritas. Isso é o que todos nós somos.

Vocês não, gente do teatro, vocês já se sabe. São tudo isso, degenerados e anormais, como todos, mas vós não fingis, ou se calhar é porque não o podem fazer. De qualquer forma não enganam com hipocrisias. Já vos chamaram alguma vez para presidir mesas ou actos oficiais? Há muitos de vós em alguma Academia? Não senhor.

Não vale de nada que além de actores, sejam dramaturgos, cenógrafos, que se pendurem num arame... nada. Só sereis respeitáveis quando se afastarem dessas tábuas às quais vos agrada subir para pintar a macaca. A vós, do teatro, preferem colocar-vos uns pesos a mais ou a menos (à cautela) com a ideia de vos manter à distância. E porque não vos chamam quando se trata de puxar o lustro? Querem que vos diga?

Porque não o mereceis!

Porque não prestigiais uma mesa nem um acto solene, sois vós uns inapresentáveis. Porque não conseguis ocultar o que são: cómicos. Sois uns cómicos, uns teatreiros. Porque sois gente de mau viver, porque viveis simulando e quereis fazer ver aos restantes que todos somos uns simuladores, que também nós jogamos os papéis das nossas vidas. E isso de nos dizerem que todos actuamos é absolutamente intolerável, perdoem-me que vos diga assim de cara. No entanto...

No entanto sois vós o verdadeiro rosto da literatura, sois vós o nosso verdadeiro rosto e a nossa verdadeira estatura. A qual não pertence ao altar das estátuas, mas sim ao altar da carne.
Sois vós os sacerdotes e as sacerdotizas do rito humano. O rito da carne.

Sois vós os corpos que passam frio nos ensaios, nesses locais húmidos sem ventilação, que transpira a correr pelo cenário, quem cospe quando berra, quem se magoa quando cai mal, quem actua com febre... sois vós o músculo, o nervo e o osso da literatura, que caminha, que se arrasta, chuta, cai, berra, ri e chora. Sois vós quem transforma a matéria morta, tinta das palavras escritas, na carne que fala.

Sois vós quem se sacrifica uma parte da vossa humanidade e a expõem nesse altar de tábuas para nos redimirmos de tanta ignorância, de tanta desumanidade.

Não. Está visto que não sois nada formais. Deixem-me que vos diga com o coração nas mãos, que sois uns cantadores, uns teatreiros, uns cómicos e uns farsolas. Sois canalha e não tendes pudor nenhum em exibir públicamente o que nos incomoda: a nossa inveja, o nosso ódio, o nosso desejo, a nossa piedade, a nossa falta de dignidade, a nossa covardia, o nosso valor... tudo isso que se tem de esconder porque qualquer um sabe que é de mau gosto. Alguém a emocionar-se não é em geral de bom gosto. Sois vós o que de melhor há em nós, uma coisa que tal como a carne esfolada, temos medo de tocar porque causa dor e sofrimento. Sois vós as balas perdidas que levam a cada um os sonhos de infância que soubemos servir.

Perdoem-nos aos que andamos por aí a passear o nosso busto e estátuas solenes, meus irmãos e irmãs inconfessáveis.

E não contem a ninguém que me viram entre vós, ou nem sequer chegarei a ser alguma coisa.

terça-feira, fevereiro 24, 2004

Modelos vs Actores

Já uma vez ouvi falar de uma teoria que diz que nós temos sempre a tendência para fazer aquilo em que temos menos competência. Irrita-me profundamente ver o raio dos modelos a tirar o lugar aos actores. Isto já não é de agora. Telenovelas com modelos, filmes com modelos, peças de teatro com modelos... mas a mim que não sou modelo e estou longe de chegar a isso, nunca me pediram para desfilar numa passerelle ou fazer um portfólio fotografico de moda. Bem sei que a televisão vive da imagem, que os olhos também comem. Há actrizes bem bonitas e actores também. Com boas técnicas de dicção e de interpretação. Não é raro ver nos castings, as meninas e os meninos a acenarem com os recortes dos catálogos de pronto-a-vestir, para afirmarem que também são modelos na tentativa de passarem a ser actores...



Escolas de Teatro para quê? Escolas profissionais, superiores, semi-profissionais, anti-profissionais? Para quê? Toda a gente nasce com capacidade para cantar, dançar, representar. Depois só tem de a desenvolver. E é necessário o teatro de amadores, convivendo com o teatro profissional...



Mas daí a permitir que se seja "actor profissional" sem ter o estatudo devido para isso, considero-o eu (que sou actor profissional) uma enorme afronta a todos os actores profissionais, credenciados ou sindicalizados. Mesmo que isso do 'sindicalizado' seja apenas uma coisa "de honra". (Ainda irei falar do sindicato...)



Nunguém me deixa ser advogado sem curso, por mais conhecimentos de direito que tenha. Ninguém me deixa ser médico, mesmo que tenha tirado um curso de socorrista. A problemática dás profissões artísticas é que realmente lidam com capacidades humanas quase inatas (para não dizer mesmo - inatas). No entanto, até os jogadores de futebol se dividem por... DIVISÕES!



Ruy de Carvalho a contracenar com um fulano que só porque disse no Big Brother que queria contracenar com esse actor e isso acontece (porque a estação televisiva ATÉ era a mesma). Parabéns! Eu hei-de telefonar às produtoras a dizer o mesmo...



Castings para companhias de teatro? Realmente "quem te avisa, teu amigo é..." Mas isto fica apenas entre amigos...



Os modelos, possuem agentes. Há agências de modelos. Que interferem no mercado de trabalho dos actores. Não que isso me aconteca a mim. Felizmente, trabalho não me falta. Mas porque é que só há meia dúzia de agentes (quase privados) de meia dúzia de actores? As agências de casting para actores são ridículas. Movimentam-se num círculo restrito. Saltitam entre Porto e Lisboa... E apenas para um circulo restrito de propostas.



As profissões artísticas em Portugal, estão sujeitas à lei da selva. Uns comem-se aos outros (por vezes das formas mais hetero-doxas ou homo-doxas.) Passar a perna é palavra de ordem. A rasteira é a boa-acção mais apreciada.



Mundo cão ou não eu gosto dele. Mas dá-me pena que em certas coisas sejamos ainda tão "feudais"...
Em absoluta estreia. Sup-Palco. O novo blog onde poderemos falar mal e mal e ainda mais: Falar Mal da vida teatral portuguesa. Já que as conversas de "corte-e-costura" têm por hábito passar-se ao redor de mesas de cafés recônditos e casas particulares, aqui temos o espaço aberto para a má língua, ao abrigo do anonimato da lei do nickname.

Artistas, actores, modelos, carinhas larocas e outros que tais... não pensem que o teatro é para todos. Apesar de todos poderem fazer teatro (até mesmo os actores...)