quarta-feira, julho 07, 2010

Dos cortes orçamentais do ministério da cultura

Enquanto trabalhador independente, muito pouco habituado a receber fundos para a criação dos meus próprios trabalhos, observo esta questão dos cortes orçamentais num misto de preplexidade e estranheza...

Estou absolutamente solidário com os meus colegas de profissão dos diversos sectores da cultura. Não é justo que se mude a regra do jogo a meio do jogo.

Não é correcto que se apliquem as mesmas lógicas de mercado a todos os criadores.

A questão fundamental é esta: A ministra da Cultura é daltónica ao não saber distinguir "Arte" de "Entretenimento".

No entanto ambas são fundamentalmente dirigidas para os mesmos fruidores: o Público.

É que Arte e Entretenimento podem e devem coexistir. Nada mais aborrecido do que ver Arte que não nos entretém (seja de que forma for) - mas isso reporta à questão da sensibilidade, receptividade e predisposição de cada um para ver as inúmeras ofertas artísticas (e por isso mesmo é que devem existir.

Agora: pode de facto existir Entretenimento sem Arte.

A nossa cultura mete no mesmo saco o fenómeno "espectacular": futebóis e espectáculos de palco (falo obviamente de tudo o que seja feito num palco - concertos, danças, teatro.

No entanto, devo também aqui fazer um exercício de honestidade: não será que este "Adamastor" que nos irá enviar todos ao fundo do mar, foi sendo criado e alimentado à conta de muitos outros e tantos criadores, que uma vez subsidiados se "encostaram" e ficaram à sombrinha da bananeira bebendo uma bela água de côco?

E aqueles que da parcela de súbsidios retiraram dinheiro para benefícios próprios? Como se lhes tivesse saído a taluda? Onde as manipulações de números de bilheteira ou deturpações curriculares do espectáculo são apresentadas nos relatórios finais?

E quantos criadores todos os anos se candidatam para os subsídios e as vezes nem precisavam de dezenas de milhar de euros para criar um espectáculo, mas que por décimas não conseguiram obter o subsídio (pelo menos para a montagem da produção). É que por outro lado a "Arte" não tem de ser necessáriamente dispendiosa (obviamente que aqui não quero castrar as necessidades artísticas de cada um) mas sim pensar nisto: será o dinheiro de todos, imprescindível para os devaneios de alguns?

De facto, aquilo que mais me espanta é que o discurso e a discussão rondam um só tema: "Dinheiro".

E políticas culturais? Temas como: de que forma a programação cultural é feita no nosso país? Que investimento tem sido feito aos criadores nacionais (e falo principalmente dos pequenos criadores.) Ninguém as quer discutir?

Perguntaram à ministra se lhe tirassem 10 teclas ao piano se ela tocaria Mozart. Mas sem querer tomar partido da Ministra, devo dizer que se Mozart tivesse apenas 10 teclas para tocar, seria na mesma um génio... Porque aqui está a questão fundamental: o génio criativo não deveria ser desperto apenas por questões financeiras. Principalmente e acima de tudo.

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