quarta-feira, maio 25, 2005

Sobre encenação:

Citando António Pedro no seu livro "Pequeno tratado da encenação", primeiro parágrafo do prefácio e dedicatória:
"A encenação é uma arte e não pode deixar de ser um artista o encenador. Regras, princípios, delimitações deontológicas e o próprio conceito estético de que depende a sua concepção e a concepção do seu agir, são matéria duma sabedoria por natureza discutível e contraditória, não ciência certa adquirida por experiência laboratorial parcelada e adicionada por erudição."
No entanto, tenho visto encenadores, que não possuem a mínima mestria de dirigir. São uns charlatães. Valem-se da experiência e do talento dos próprios actores para depois recolherem os louros da suas "supostas" encenações.
Encenadores que se limitam a um processo básico e extremamente instantâneo: Ensaio de mesa, marcação, ensaios corridos, ensaios corridos, ensaios corridos, ensaios corridos... estreia (por vezes, falsas estreias).
Ser encenador é ser o maestro de uma equipa de artistas. Mas isto não faz dele o chefe "supremo" autoritário e totalitarista. Um encenador deve ser um líder, mas não um ditador.
Encenar é saber escolher a peça certa para os actores que dispõe, ou os actores certos para a peça que quer pôr em cena. Não é apenas criar em "fornada de pão" uma série de produtos e sub-produtos teatrais que apenas são criados com o intúito de ter algo para vender.
Encenar é ter vontade de afirmar algo. De pintar um ponto de vista, uma crítica, uma reflexão. Não é dispor de actores e manipulá-los a seu bel-prazer com um falso intuíto estético ou artístico.
Encenar não é pedir aos actores que sejam macaquinhos de imitação. É dirigi-los ao ponto de que a cena que ensaiam e repetem seja feita com destreza técnica e verossímil.
Encenar não é ludibriar o espectador com efeitos "lúdicos" ou falsamente pedagógicos.
Encenar não é masturbar-se intelectualmente diante de uma plateia de espectadores que vão ao teatro.
Encenar não é demonstrar poder. É dar poder. Distribuir esse poder pela força mágica que só um espectáculo de teatro pode ter.
Encenar não é diminuir os outros, achando-se um ser de excepção.
O encenador é um artista, como todos os outros artistas das diferentes profissões que fazem com que o Teatro seja uma arte multi-disciplinar.

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