quarta-feira, novembro 19, 2008

Teatro do Absurdo

O Teatro do Absurdo nasceu do Surrealismo, sob forte influência do drama existencial. O Surrealismo, que explora os sentimentos humanos, tecendo críticas à sociedade e difundindo uma ideia subjectiva a respeito do obscuro e daquilo que não se vê e não se sente, foi fundamental para o nascimento desse género que buscava, na segunda metade do século XX, representar no palco a crise social que a humanidade vivia, apontando os paradigmas e os valores morais da sociedade como factores principais da crise. A principal fonte de inspiração dos dramas absurdos era a burguesia ocidental, que, segundo os teóricos do Absurdo, se distanciava cada vez mais do mundo real, por causa das suas fantasias e cepticismo em relação às consequências desastrosas que causava ao resto da sociedade.

Como o próprio nome diz, o Teatro do Absurdo propõe revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo que é considerado normal pela sociedade hipócrita. Essa vertente desvela o real como se fosse irreal, com forte ironia, intensificando bem as neuroses e loucuras de personagens que, genericamente, divulgam o homem como um psicótico, um sofredor, um ser que chega às últimas consequencias, culminando sempre na revolução, no atrito, na crise e na desgraça total. Extremamente existencialista, o Absurdo critica a falta de criatividade do homem, que condiciona toda a sua vida àquilo que julga ser o mais fácil e menos perigoso, negando-se a ousar, utilizando-se de desculpas para justificar uma vida medíocre.

Eugene Ionesco
O Teatro do Absurdo foca principalmente o comportamento humano, deflagrando a relação das pessoas e seus actos concomitantes. O objectivo maior desse género é promover a reflexão no público, de forma que a maioria dos guiões absurdos procuram expor o paradoxo, a incoerência, a ignorância dos seus personagens num contexto bastante expressivo, trágico, aprofundado pela discussão psicológica de cada personagem apresentado, com uma nova linguagem. Para Ionesco, Membro da Academia Francesa, autor de um dos primeiros espectáculos absurdos, como A Cantora Careca (1950), “renovar a linguagem, é renovar a concepção, a visão do mundo”. Essa linguagem é traduzida não só nas palavras de cada um dos personagens, e sim em todo o contexto inovador, pois cada elemento no Teatro do Absurdo influencia a mensagem, inclusive os objectos cénicos, a iluminação densa e utópica, além dos figurinos. Todos esses elementos materiais do espectáculo contribuem para o enriquecimento da mensagem que deve ser clara para não haver dúvidas por parte do público. A ironia constitui-se numa figura de linguagem extremamente difícil de ser praticada no palco, pois, exagerada ou mal formulada, pode ganhar um sentido contrário àquele intencionado pelo director. Um outro factor importante é que, no Teatro do Absurdo, muitas vezes o cenário, o figurino e as nuances nas interpretações tornam-se ainda mais importantes do que o próprio texto. O texto em si promove uma nova leitura, cuja concepção tornará possível a construcção cénica dentro de um viés preferido pelo director.

Samuel Beckett
Um dos autores de vanguarda do Teatro do Absurdo é Samuel Beckett autor do clássico À espera de Godot, que conta a história de dois personagens que esperam ansiosos por ajuda numa terra onde nada acontece de inovador, onde tudo se repete sem cessar, obrigando os angustiados personagens a tentar iludir a tristeza e frustração. Esse texto traduz perfeitamente a essência do Absurdo, sendo Beckett uma pessoa que, desde jovem manifestava o seu dom à rebeldia, sendo um homem contrário a religiosidade, mesmo sendo de família protestante, além de ser um homem adepto à revolução dos costumes. O Absurdo, assim como o Dadaísmo, promoveu a revolução na linguagem e na ideologia da sociedade, obtendo muitas críticas de um público que, apesar de proletário, consumia o idealismo burguês da época. Harold Pinter (1930- ), autor de Velhos Tempos, O Zelador, A Colecção e o autor americano Edward Albee (1928 - ), autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, buscaram a orientação absurda para tecer as suas críticas em favor das classes menos favorecidas, constituindo obras anti-literárias, com o mesmo brilhantismo de Ionesco e Beckett (que ganhou o Prêmio Nobel em 1969), com identidades próprias que lhes deram lugar de destaque na história da arte dramática.

A partir das ideologias de Artaud de quebra com os paradigmas clássicos do teatro ocidental, surgiu o “Teatro Pânico”, uma forma de Teatro do Absurdo calcado no drama e em contextos que mostram a revolta do autor perante o mundo. Apesar de possuir algumas ideias artaudianas, o Teatro Pânico mantem elementos básicos do teatro ocidental, como o diálogo de seus personagens. Esse género foi essencial para reafirmar o Teatro do Absurdo como vertente teatral, propondo a forma agressiva de expor os seus personagens numa crítica mordaz contra a sociedade, onde homens e mulheres vivem suas vidas num limite extremo, sempre numa virtual solidão.



Fernando Arrabal
A concepção de Teatro Pânico nasceu em fevereiro de 1962, em Paris, e misturava terror com humor. A filosofia pânica diz que a memória é fundamental para o homem, pois esse não passa de um grande fundo de saberes que, com o passar dos anos, compõe um quadro estético, ético e moral. Na visão de um dos principais diretores do Teatro Pânico, o espanhol Fernando Arrabal, autor de A Guerra dos Mil Anos, o Pânico mistura a vida privada com a vida artística, o lirismo e a psicologia, onde o teatro passa a ser encarado como um jogo, ou uma festa. Muitos associaram o Pânico com o Dadaísmo, género que contesta a razão em prol do subjetivo. Dessa forma, os espectáculos pânicos propõem, acima de tudo, uma linguagem extremamente transcendental em relação aos temas abordados. Nada disso poderia ser possível sem a estruturação do Teatro do Absurdo que possibilitou no homem uma evolução no que se diz respeito aos seus dogmas.

1 comentário:

Marco Rebelo disse...

Estamos sempre a aprender :) bons espectaculos :)